(As impressões da participação no bloco Beijamim no Escuro, para portadores de deficiência visual, no Carnaval de 2009)
Sentir-se sozinho, isolado do mundo, apartado de determinados confortos, que só poderiam ser plenos com as faculdades plenas; talvez sejam pensamentos que ocorram em muitas pessoas, independente de seu estado físico e psíquico.
Volta e meia, ocorre-me a idéia de subtrair, passageiramente, um dos sentidos que possuo. Assim, por várias vezes, tateio o escuro, propondo-me a execução de certas tarefas sem luz; é uma brincadeira, um passa-tempo, um exercício. Não tem um propósito específico - assim como toda brincadeira, mas faço com certa assiduidade.
Outra vez, pintei um quadro, para presentear uma amiga em seu aniversário, mas fi-lo também na escuridão, no breu. Experiência formidável, que além do produto final - o quadro, fez-me perceber que há sim, outras possibilidades. Que nada, por mais falível e dificultoso, não possa ser trabalhado, e desta forma, transmutado. E assim, o permitir-se para que qualquer ato se faça possível.
Outra experiência, que subtraiu-me dois de meus sentidos, voluntariamente, foi quando numa viagem à Chapada Diamantina, visitei uma caverna; e ali, lá dentro, na ausência de luz e de sons, senti-me afrontadamente solitário, de uma solidão que nos põe em contato conosco apenas. Ouvindo-nos ou olhando para dentro. Foram instantes, momentos medidos e passageiros, mas que me fez perceber o quão poderoso é o nosso potencial para ativarmos nossas ferramentas orgânicas, possibilitando-nos superar as dificuldades e as condições desfavoráveis.
Nesse Carnaval de 2009, ao participar de uma das poucas atividades que fiz, saindo na terça-feira gorda no bloco carnavalesco Beijamim no Escuro, composto em sua maioria por portadores de deficiência visual, seus respectivos parentes e demais convidados; portando uma uma fantasia inusitada (para além da cartola do Manisfestante Contestador, que já portava), coloquei óculos escuros e uma bengala retrátil e personifiquei ali, um dos meus colegas do Instituto Beijamin Constant. E assim, permiti-me brincar no Carnaval, exercitando algo que já fazia em casa, mas desta vez, na rua; e com os olhos sob os óculos - muitas das vezes de OLHOS FECHADOS, perambulei ao som do samba e deixei-me conduzir e conduzi o bloco rua à fora.
Foi rico e iluminado verificar (e ali naquele momento foi propício), que nunca se está definitivamente sozinho, quem outras possibilidades pode realmente experimentar.
Emerson Menezes.