segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

..., pois bato asas, voando a voar:

(grafite de Kajaman. foto - Emerson Menezes)


Avoado voando


Ouso sonhar com braços
que não possuo.

Abusado, almejo asas
que não terei para farfalhar.

Às vozes que me açoitam
com violência, anseio por perdoar.

Querência das coisas, quererem-se perfeitas,
'inda que inéditas.

E assim, sigo a criar,
como quem se esconde pequenino,
nas nuvens ao luar.

Busco esclarecidamente carente,
que meus tolos murmúrios
se percam nesse viajar.

Sigo assim, sozinho e resoluto,
em tumulto nos desdobrares
do meu contínuo despetalar.


sábado, 27 de dezembro de 2008

..., pois mesmo fragmentado, estardalho por ti:

(Mosaico carioca do chileno Selarón. Foto - Emerson Menezes)


Ciente da ignorância e buscando sabedoria,


queria ser assim, tão observador de mim.
Ser tão circunspecto e ao mesmo tempo tão desperto,
como que plantado em campos de alecrim.

Sorrio iluminado,
pois sei ser a vida assim;
eu em estado estardalhado e estilhaçado
e tu tão longes de mim.

... , assim como nuvens não cabem no céu:

(Foto - Emerson Menezes)



Estive em estados diferentes

"A vida é muito curta para ser pequena"
(Chacal)

E assim termino, no que mina
meu conto de mim.

Como tudo flui, partindo partido,
para em sementeiras ser depositado; parto.

E no meio de tudo, fico metido numa estória,
que apenas corre buscando um sentido.

O que nasce, busca no transcorrer do caminho,
desaguar sumindo, para nunca se findar.

E assim, volto feito nuvem,
para do início recomeçar.

Estive em estados diferentes,
mas hoje desabo rasgado em ti.

(poema de 25 de setembro de 2007, postado neste blog, em outro formato, em 27 dez 2008)

... mas alguns fatos merecem registro e destaque:

(Considero uma das imagens mais representativas do ano de 2008.
Fonte - g1.globo.com/Noticias/Games/0MUL923616-9666...)


Para comemorar,
vamos vaiar!
Não gostou?
Bata palmas!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

... mas para apresentação física de um poema - solto como numa página em branco, concretamente colocado, escrevo:

(Paul Klee. Imagem extraída da Internet)


À moda cummingsiana

O
U

S
O
U

T
U
D
O,

O
U

OS
SU
DO

A
S
SO - M E


..., mas um poema de e.e. cummings, com tradução de Augusto de Campos, cabe concretamente:

(Pardais franceses em algazarra matinal. Foto - Emerson Menezes)

às 5 da man
hã eu ouço par
(que não sabem cantar)
dais que chamam

e 2 ou tal
(que o sabem a esmo
gordos pombos arrulham)
vez 4 ou mesmo

agora a vasta humana mais
(nãomente do intelecto)
do que máquina faz-
se menos que um inseto

às 6 este murmúrio
de signo indaga ao léu
(de um mundo natimudo)
"inferno ou céu"

... pois não me aguento engaiolado:

(Coleiro de peito amarelo. Foto - Emerson Menezes)

À voar para teus lados


Chuvas-pingos caem
e calam-me.

Verdade-conclusão das coisas
de materializarem-se.

Metendo-me em coisas alheias,
refugo-me apartado de tudo.

Refúgio de meu mundo,
ser assim tão mudo e pouco atabalhoado.

Calado, absorto e
embrutecidamente engaiolado,
engasgo.

E assim,
tão louco
de ser tão só;

sonho-me soltar feito
gota sedenta ao seu lago.



terça-feira, 16 de dezembro de 2008

..., mas cabe um poema, fruto de uma cena de rua (fotografada por mim), com epígrafe de Dostoievski, para quando faltam palavras para o nosso tempo:

Pingente amuleto

"Eu era morbidamente sensível, como deve ser
um homem de nosso tempo."
(Dostoievski - Notas do subterrâneo)



Enquanto guardavas a rua ali,
li em teus olhos (que me perscrutavam atento),
todo o alento do mundo.

E eu, como tu, carente criança,
aguardo por armas que venham me proteger
e me dar abrigo, nesses tempos de guerra.

E assim, portas teu pingente-amuleto e revestido
de tamanha envergadura,
passas a ser também o protetor.

Criança, o que te guarda, quando aguardas
alguma coisa, que nem bem sabes o que?

É bom permanecer sentado para que não pese e
desconforte o esperar?

Criança, e como ainda tens a compostura
de abrires teu peito,
ainda tão alargado assim?

Criança, sou eu como tu
e contigo me lanças, com tua zarabatana
para pensamentos que varejem para longe daqui.

Criança, que olhos baços são esses que trazes,
quando ainda te cabe tanta vida e esperança?

Criança, tu sabes, eu sei, e muitos detêm,
que esta tua sina é cena trágica
e se acena sempre assim dramática.

E eu aqui absorto, trago teu amuleto em meu plexo
e assim sendo, exerço meu lado perplexo,
pois ali naquela cena de rua,


Eu era morbidamente sensível,
como deve ser um homem de nosso tempo.


domingo, 7 de dezembro de 2008

Evento sobre 68, no Palácio Gustavo Capanema de 8 a 21 de dezembro de 2008:


Considerações sobre a palestra “Urbanismo Estado Fluido”, proferida pela Dra. Rosane Azevedo de Araújo, na Facha:

A mobilidade do homem na cidade e da cidade no homem.


O ...etc. - Estudos Transitivos do Contemporâneo é um núcleo de pesquisa e produção de eventos sobre problemas emergenciais nos campos da ciência, da cultura e da arte em suas várias manifestações na sociedade, promovendo um diálogo com todos os campos do conhecimento. Seu objetivo é abrir o debate e a discussão ampla, analisando e propondo novas formas e modelos mais eficazes de intervenção social.


Considerações sobre a palestra “Urbanismo Estado Fluido”, proferida pela Dra. Rosane Azevedo de Araújo (coordenadora do grupo ...etc. - Estudos Transitivos do Contemporâneo), no evento Expressões da mente II – o mundo sou eu, no auditório da Facha – Faculdades Integradas Hélio Alonso, em 29 de outubro de 2008.

Segundo apresentado, a arquitetura e o urbanismo são tradicionalmente associados à estabilidade e a permanência, ao sólido e ao duradouro. Contudo, da era moderna para a atual, novos modelos já experimentaram em traçado específico, e fugiram do tradicional, do status quo, do consagrado e instituído.

Assim, arquiteturas diferenciais, condicionadas num urbanismo original, puderam ser vistas em arquitetos como Oscar Niemeyer ou até mesmo em construções específicas como o maior prédio do mundo em Dubay. Configurando-se assim, a idéia do que antes era tão sólido e, portanto, tão propenso a ser o mesmo; em liquefazer-se crescentemente, de décadas próximas para cá.

Verifica-se desta forma, que a não fixação, e a transformação, dão respaldo às questões propostas por autores como Zigmunt Bauman.

Bauman utilizou em seu livro “Modernidade Líquida” a metáfora da “fluidez” ou “liquidez”, para a então era moderna de seu tempo. No prefácio de sua obra, o tempo apresenta relevância especial, pois os fluidos estão sempre prontos à mudança, preenchendo espaços apenas por um momento e por isso mesmo, precisam ser datados. Como a mobilidade dos fluidos se associa a idéia de leveza, essa adentrou na história da modernidade, que não havia sido desde o começo um processo de liquefação, mas foi-se fluindo com o passar do tempo.

Na palestra, citou-se como exemplo deste tempo movente, a possibilidade de se marcar um encontro sem a necessidade de um espaço físico, geográfico, pré-definido. Assim, os conceitos de espaço/ tempo, público/ privado, dentro/ fora e global / local; foram todos relativizados. Pode-se, para exemplo do último conceito, verificar que há cruzamento nos usos, pois hoje, trabalhar em casa ou em qualquer deslocamento, trata-se de modificar o tempo todo o uso do espaço.

Assim, o espaço virtual contemporâneo teria grande funcionalidade às propostas fluidas, devido à sua possibilidade de onipresença, ao disseminar-se por toda a parte. Assim, a cidade como local de troca, comunicação, moradia, trabalho, estaria, potencialmente, em qualquer lugar.

A cidade que tradicionalmente se estabeleceu pela vitória do sedentarismo, da fixação no solo, da ocupação de um espaço euclidiano; hoje, desmantela-se para algo novo, ainda disforme, mas certamente de características marcantes no virtual, no ciberespaço – onde o EU de cada um está cada vez mais impresso e movente, pois a cada mudança da rede, modifica-se a localidade e por conseqüência direta, as relações que aí são desenvolvidas. O EU atual do ciberespaço, não é apenas agente modificador, mas também está propenso a se modificar, por ser uma engrenagem movente, constantemente “fluidizada” pelas diferentes relações estabelecidas nesse meio, que em si, é totalmente “gaseificado”.

Não há, portanto, distinções entre quem habita o lugar (o homem) e o lugar em si (a cidade).

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

... eu não caibo, mas personagens urbanos como o sapateiro Nicola Paladino, há 51 anos no mesmo local de trabalho, cabem perfeitamente:

(Foto - Emerson Menezes)

A Itália e o Brasil têm mais conexões relacionadas à segunda Guerra Mundial, que os cerca de vinte e cinco mil soldados brasileiros da Força Expedicionária Brasileira, e os muitos imigrantes fugidos de lá no período do pós-guerra.

Como se descreve na História, o Brasil teve uma forte participação na etapa final da II G.M., quando enviou para lá cerca de vinte e cinco mil pracinhas da FEB, que ao conquistarem a região de Monte Cassino, contribuíram significativamente para a vitória dos Aliados.

Contudo, de lá para cá também vieram muitos imigrantes, que fugiram das dificuldades impostas após uma Itália devastada pela guerra

O sapateiro Nicola Paladino, 73 anos, é um exemplo e testemunha daquele purgatório e dos que buscaram no Brasil não a colônia de férias paradisíaca, mas um lugar onde pudesse simplesmente trabalhar e recomeçar as suas vidas. Oriundo da Sicília, mais precisamente da ilha Vulcano, no sul da Itália, sai de seu país natal devido à grande dificuldade pelo qual a Itália passou para se reerguer no pós-guerra. Assim, como seus conterrâneos, que vieram para o Brasil sem certificados de cursos ou graduações, mas com ofícios específicos (barbeiros, padeiros, marceneiros, carpinteiros, pedreiros ferramenteiros, etc.); aprendeu sua profissão com um tio.

Um resistente jovem sapateiro, então com 22 anos, fixou-se em 1957 no Rio de Janeiro, mas precisamente numa casa no bairro suburbano de Irajá. A parte da frente de sua residência o serve até hoje como oficina e deu sustento à sua família aqui constituída. “Aqui em frente passava o bonde, que fazia o trajeto Irajá-Madureira. Nesta época todo o comércio era de rua, e essa avenida tinha um fluxo intenso. Desta forma, consegui por muitos anos, sustentar a minha casa, educando meus quatro filhos.”

Certamente, os filhos do Sr. Nicola lhe devem muita gratidão, pois o funcionário federal, a professora, o administrador de empresas, e o técnico talvez não conseguissem, hoje, as mesmas oportunidades, caso seu pai tivesse que sustentá-los com que tira, atualmente, da sapataria: “Hoje quase ninguém vem aqui. Hoje quase ninguém usa sapatos, pois hoje tudo é muito artificial e descartável. Mas eu sou teimoso e mesmo ganhando pouco, sou resistente!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sobre a despoluição dos Canais do Cunha e do Fundão (Maré):

O Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré – CEASM – é uma associação civil, sem fins lucrativos, criada em 15 de agosto de 1997. O CEASM atua no conjunto de comunidades populares da Maré, área da cidade do Rio de Janeiro que reúne cerca de 130 mil moradores. O Centro foi fundado e é dirigido por moradores e ex-moradores locais que, em sua grande maioria, conseguiram chegar à universidade. Os projetos desenvolvidos pelo CEASM visam superar as condições de pobreza e exclusão existentes na Maré, apontado como o terceiro bairro de pior Índice de Desenvolvimento Humano da cidade.

AGUARDAM-SE AS PROMETIDAS OBRAS NOS CANAIS DA MARÉ
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Onde estão as tão faladas obras que prometeram recuperar e revitalizar os Canis do Cunha e do Fundão, aqui, na Baía de Guanabara?
As obras que o então secretário estadual de Meio Ambiente, Carlos Minc, prometeu iniciar em novembro de 2007, financiadas com recursos da Petrobras, no valor de R$ 70 milhões com o apoio da Coppe (Coordenação dos Programas de Pós Graduação em Engenharia) /UFRJ; continuam sendo aguardadas pra seu efetivo início, pois até agora, apenas a Serla (Fundação Superintendência Estadual de Rios e Lagoas) instalou uma pequena estação de despoluição no canal e uma barreira de contenção de lixo flutuante que, junto à foz dos canais e rios que ali deságuam, mal seguram os detritos que correm a céu aberto.
Em agosto de 2007, o atual Ministro do Meio Ambiente, propagava que as obras trariam grandes benefícios para as comunidades do entorno dos canais do Cunha e do Fundão “Isso porque algumas famílias serão realocadas, as margens do canal e dos rios Jacaré e Faria Timbó serão reflorestadas, haverá programas habitacionais e mercados populares. Será um projeto muito importante para toda a população.”
Desta forma, os moradores da Maré aguardam ansiosos pela despoluição dos 6,5 Km de extensão dos canais, que retirará aproximadamente 1,8 milhões de metros cúbicos de material poluente, que continuam assoreando esses canais e impedindo a circulação das águas da baía.
Para os que se esquecem com facilidade, ou até mesmo nem gostam de lembrar, damos aqui, como referência, a nota da Serla, que saiu em 28 de agosto de 2007 e que não nos deixa mentir: http://www.serla.rj.gov.br/noticias/noticia_dinamica1.asp?id_noticia=363. E quem sabe agora, com poder que possui o Ministro Carlos Minc não cumpra o que tenha prometido há um ano, na figura de representante do Estado do Rio de Janeiro.