quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Ainda sobre o Senado: é tudo velho de novo

" - o Senado vive como e não fosse vinculado à sociedade.
É como se fosse um Senado suspenso no ar.
E essa desvinculação da sociedade faz faz com que os senadores
acreditem que o Senado tem regras próprias.
Mas, numa sociedade democrática, a opinião pública
não aceita isso, os outros poderes não aceitam,
a imprensa não aceita"
(Rubens Figueiredo - cientista político)


Na verdade, na verdade (se é que o há), mas de qualquer forma, não sejamos hipócritas ou ingênuos; a renúncia ou afastamento do senador José Sarney da presidência da Casa, para além das ditas questões morais, que o Senado deveria se impor, tem o traço direto com as questões das próximas eleições presidenciais. Desarticular Sarney é sim, atrapalhar as manobras políticas que o Palácio do Planalto vem engendrando para levar a ministra Dilma Rousseff à presidência da República.

Convenhamos também, ilustríssima família Sarney: CENSURA prévia nos dias de hoje não queremos mais.

Ainda sobre a crise é de se verificar, e tristemente, que o deputado cassado José Dirceu vem participando ativamente das negociações no PT em favor de Sarney. Ou seja, não há pagãos nessa história - é tudo velho de novo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Abstraído

para esquecer de mim eu minto
para esquecer de ti eu asso

quanto a me abster ainda,
quando mais de mim me afasto...

pois sois um sustenido em mim
ainda que me submeta a cadafalsos.

E agora José? A festa acabou ...


Senador Pedro Simon, atacando, mais uma vez, a permanência do senador José Sarney a frente da casa - apesar de apenas tê-lo feito quando o mesmo tinha saído ...
(imagem extraída da Internet)

O homem não larga o osso. Atrelado aos seus colegas escudeiros, parece ganhar fôlego, quando parecia deixar o estábulo. Hoje, o tapete azul da Casa dos senadores parecia vermelho, tamanha a força dos dedos em riste, tapas nas bancadas - só faltou tapas na cara - uma vergonha só...

Senador Wellington Salgado, senador Fernando Collor, senador Renan Calheiros e vários outros se intercalando nas ridículas posturas de companheirismo ao colega, atacado pelo senador Pedro Simon. Parecia de tudo: mercado de pulgas, feira a céu aberto, o Saara no Centro do Rio de Janeiro, o Mercadão de Madureira, a feira de animais em Honório Gurgel, Mercado Ver-o-Peso em Belém do Pará ... tudo, menos uma Casa que deveria primar pelos bons costumes, pela primazia à Constituição, e sobretudo, a ÉTICA para cada um dos eleitores - que pôs cada um dos ditos senadores lá.

Até quando veremos essas cenas de horror em nosso país?

Que poder é este do ilustre senador José Sarney, que o mantem como um faraó em nosso país?

E agora José? A festa acabou ...

sábado, 1 de agosto de 2009

... mas antigos trabalhos cabem em reflexões atuais ...














Achei pinturas minhas detonadíssimas com o tempo, enroladas e guardadas. É interessante quando empreendemos viagens às questões próprias de nosso processo criativo, propiciando desta forma, reflexões profundas.

As pinturas foram fruto de estudos, nada mais. Não ambicionava para elas "obras" acabadas, algo a ser exibido. Apenas foram feitas como uma experimentação, um exercício de manejo de pincéis e cores, sobre a rugosidade de um papel. Foram feitas no dia 6 de janeiro de 2001, numa oficina livre de pintura, conduzida pelo professor de artes plásticas e aquarelista Alberto Kaplan.

São de proporções médias, e desta forma, em formatos maiores são interessantes, pois permitem observá-las em seu conjunto - absorvendo a imagem como um todo, assim como, também prescrutando-lhes os detalhes. E assim são hoje - o que era apenas um estudo, permitem-se para uma reflexão.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

... mas o escritor Paul Celan cabe ...


Paul Celan - Judeu oriundo da Bucovina (atual Ucrânia), ex-província oriental do Império dos Habsburgo e, como terra de fronteira, lugar de convergência entre várias culturas; como a russa, alemã e a romena. Seus pais foram mortos em campo de concentração.

Atravessou o Rio Prut, permanecendo por algum tempo na Áustria, de onde se dirigiu para Paris, onde falecera, suicidando-se no Rio Sena em 1970, após acometido de doença que lhe paralisara até as pálpebras.



Canção de uma dama na sombra


Pois florescia a amêndoa.
Amendoeira, forcal.
Sonho de amêndoa, amendonheira.
E ainda, o zimbro.
E a árvore da vergonha.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

A estória de uma pipa avoada

Caiu e ficou atravessada no terraço lá de casa. Logo depois, várias crianças chegaram, pedindo-a. Todos se achando no direito de tê-la para si.

Recolhi-a. Enrolei-lhe a rabiola e a linha, com cuidado devido a rugosidade do cerol.

Como não estava propenso à conciliações napoleônicas naquele momento, pois eram muitas as crianças que pediam aquele simples objeto de desejo; resolvi não entregá-la para ninguém e guardá-la comigo. Como julgar quem mereceria mais, dentre tantas crianças?

Coloquei-a sobre minha escrivaninha, esperando que outros escritos avoassem em sua presença e caíssem ali.

A tarde passou e a noite já se aproximava. As crianças brincavam na rua, esquecidas da pequena pipa vermelha que caíra em meu terraço. Contudo, duas resistiram e retornaram, pedindo insistentemente o brinquedo voador. Perguntei-lhes qual o argumento que me apresentariam para que pudesse dar a um e não ao outro. Disseram-me que entregasse aos dois, pois eles sempre brincavam juntos, além de possuir uma coleção de pipas - divida na casa de ambos. Levaram-na. Deixaram-me ali, avoado, pensando em estorinhas de férias escolares.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

... mas uma pintura de Van Gogh sempre caberá

(imagem extraída da internet)

Como numa noite de São João

Há exatos 121 anos atrás, em uma carta a seu irmão Theo, Vincent Van Gogh se mostrou extremamente apegado a valores de transcendência espiritual, sem falar em sua auto-percepção, de que ele em si, colaborava para a arte. Assim, num julho de 1888, num trecho de uma das cartas ao irmão, coloca-se como um gênio incompreendido quando fala: "Pense no tempo em que vivemos como uma grande renascença da arte, com novos pintores solitários, pobres, tratados como loucos".

Visão instigante e provocadora de uma mente perturbada a tela A noite estrelada nos choca e deslumbra até hoje. Ali, o fulgor do cipreste que sobe aos céus como chamas, pode ter retratado a busca do pintor na transcendência - no que vai para além do homem. As estrelas que ali explodem, só o podem em Van Gogh, onde para a noite, pintava de dia. Um quadro, que 120 anos depois de pintado, parece querer Vênus - branca e resplandecente, à Terra, como numa noite de São João, onde o sagrado no profano se permite.

A sua arte, gloriosa como uma noite estrelada, ou mesmo uma noite de São João, brilha, ainda, perturbavelmente.