quinta-feira, 28 de maio de 2009

Sou qual passarinho, mas quem passará?

(foto de Emerson Menezes)


(com alusão direta a Mário Quintana,
pois ele cabe entre quaisquer aspas)



Oxalá quisesse abrir meu peito e cantar,
tal qual qualquer pardal solto, no sol a corar.

Oxalá minhas vontades-asas fossem compartilhadas
e com o partilhar alheio me empoleirar.

Oxalá entre aspas um canto uníssono,
retirado de partitura de trinados, ousássemos tutorear
.

terça-feira, 28 de abril de 2009

"..., mas recortes na paleta da natureza são bem vindos"

(foto de Emerson Menezes)


Irisdiscente


Um arco-íris que sorri,
é o efeito abestalhado da natureza;
que ignorante de si mesma,
apenas se manifesta em mantos de nuvens.

Ainda aluna das coisas,
e perante tão absurda beleza; silencia minha

íris discente.


domingo, 26 de abril de 2009

quinta-feira, 23 de abril de 2009

"... pois tudo que tende à terra, tende sucumbir"

(foto de Denis Darzacq, extraída do site: http://blog.uncovering.org/archives/2008/11/denis_darzacq_fotografias_em_quedalivre.html)


Caído


Caindo contra o movimento
que busca equilíbrio,
entonteço ao acontecer.

Tudo tende ao torto
e desapegado do nexo,
entorpece-se de medo
rumo ao abismo.

O poeta estabana-se,
mas não estanca,
estaca-se vago - fixo no espaço -
onde nem o fio da lança alcança
o doloroso meio-fio do asfalto.

O poeta não está caído,
mas está no ato contínuo
- alado -
em passo estático.

quarta-feira, 25 de março de 2009

..., nem nuvens, por não caberem em si ...







Nuvens plúmbeas plumas plainam sempre,
quando se fecha março.

E por mais que torça por planos que chovam,
ainda tanto falta fluir.

Peçamos por mais presença e
menos tele-audiência;

acessemos mais links, conquanto novas pontes

possamos construir.









domingo, 1 de março de 2009

A sinergia de sentimentos sinestésicos

Foto acima extraída de:

http://oglobo.globo.com/blogs/fotoglobo/post.asp?t=beijamin-no-escuro&cod_Post=164464&a=421



(As impressões da participação no bloco Beijamim no Escuro, para portadores de deficiência visual, no Carnaval de 2009)

Sentir-se sozinho, isolado do mundo, apartado de determinados confortos, que só poderiam ser plenos com as faculdades plenas; talvez sejam pensamentos que ocorram em muitas pessoas, independente de seu estado físico e psíquico.

Volta e meia, ocorre-me a idéia de subtrair, passageiramente, um dos sentidos que possuo. Assim, por várias vezes, tateio o escuro, propondo-me a execução de certas tarefas sem luz; é uma brincadeira, um passa-tempo, um exercício. Não tem um propósito específico - assim como toda brincadeira, mas faço com certa assiduidade.

Outra vez, pintei um quadro, para presentear uma amiga em seu aniversário, mas fi-lo também na escuridão, no breu. Experiência formidável, que além do produto final - o quadro, fez-me perceber que há sim, outras possibilidades. Que nada, por mais falível e dificultoso, não possa ser trabalhado, e desta forma, transmutado. E assim, o permitir-se para que qualquer ato se faça possível.

Outra experiência, que subtraiu-me dois de meus sentidos, voluntariamente, foi quando numa viagem à Chapada Diamantina, visitei uma caverna; e ali, lá dentro, na ausência de luz e de sons, senti-me afrontadamente solitário, de uma solidão que nos põe em contato conosco apenas. Ouvindo-nos ou olhando para dentro. Foram instantes, momentos medidos e passageiros, mas que me fez perceber o quão poderoso é o nosso potencial para ativarmos nossas ferramentas orgânicas, possibilitando-nos superar as dificuldades e as condições desfavoráveis.

Nesse Carnaval de 2009, ao participar de uma das poucas atividades que fiz, saindo na terça-feira gorda no bloco carnavalesco Beijamim no Escuro, composto em sua maioria por portadores de deficiência visual, seus respectivos parentes e demais convidados; portando uma uma fantasia inusitada (para além da cartola do Manisfestante Contestador, que já portava), coloquei óculos escuros e uma bengala retrátil e personifiquei ali, um dos meus colegas do Instituto Beijamin Constant. E assim, permiti-me brincar no Carnaval, exercitando algo que já fazia em casa, mas desta vez, na rua; e com os olhos sob os óculos - muitas das vezes de OLHOS FECHADOS, perambulei ao som do samba e deixei-me conduzir e conduzi o bloco rua à fora.

Foi rico e iluminado verificar (e ali naquele momento foi propício), que nunca se está definitivamente sozinho, quem outras possibilidades pode realmente experimentar.

Emerson Menezes.