quinta-feira, 6 de agosto de 2009

... mas um inusitado coro infantil cabe ...

Como sou um morador do subúrbio carioca, parece-me que só aqui se presenciam fatos corriqueiros a este canto da cidade. Só aqui poderia ser partícipe de situações típicas a esta área e o quanto elas soariam sui generis para muitas pessoas, com as quais, inclusive, convivo.

Como é peculiar às pessoas deste cantão do Rio: o número de evangélicos é bastante elevado; o que em si contribui para a cena que narro a seguir.

Domingo. Quase 18h, faltando pouco para acabar o jogo do Flamengo com o Náutico (deixando-o no lamentável 1 X 1), no Maracanã. Nesse momento, talvez nem os homens suburbanos em suas casas, assistindo ao jogo, tenham deixado de ouvir um coro de crianças e jovens que desciam a rua rumo às suas igrejas. Cantavam uma música gospel de muito sucesso nas rádios, já regravada por muitos: "Faz um milagre em mim" de Regis Danese. Sim, justamente essa; "entra na minha casa, entra na minha vida, mexe com minha estrutura, sara todas as feridas", que todos bem conhecem. Foi lindo de ouvir e reverbera até agora na minha memória. Vozes afinadas, cantando com o peito limpo e o coração aberto.

Ao mesmo tempo que aquela cena soava comum ao cotidiano do lugar onde moro; carregava consigo o poético, que habita em cada um de nós, sem, que, muitas das vezes, nos apercebamos disso. Fazendo-nos esquecer que cada gesto curto pode acariciar ou ofender. Que a palavra tem sim poder, pois emana de nossos sentimentos profundos, nossos quereres; e por isso, devemos ter muito cuidado ao usá-la. E aquele coro me mostrou que o pequeno gesto; carregado de cotidianos, pode sim ser uma lição.

Era apenas um inusitado coro infantil de evangélicos suburbanos, mas caberia bem em quaisquer aspas.

2 comentários:

Marcelo Penido disse...

Pertinente ao momento de reflexão circense ...

Nara Boechat disse...

a igreja vive do coro e da repetição... observando pelo âmbito poético, soa belo.