terça-feira, 16 de dezembro de 2008

..., mas cabe um poema, fruto de uma cena de rua (fotografada por mim), com epígrafe de Dostoievski, para quando faltam palavras para o nosso tempo:

Pingente amuleto

"Eu era morbidamente sensível, como deve ser
um homem de nosso tempo."
(Dostoievski - Notas do subterrâneo)



Enquanto guardavas a rua ali,
li em teus olhos (que me perscrutavam atento),
todo o alento do mundo.

E eu, como tu, carente criança,
aguardo por armas que venham me proteger
e me dar abrigo, nesses tempos de guerra.

E assim, portas teu pingente-amuleto e revestido
de tamanha envergadura,
passas a ser também o protetor.

Criança, o que te guarda, quando aguardas
alguma coisa, que nem bem sabes o que?

É bom permanecer sentado para que não pese e
desconforte o esperar?

Criança, e como ainda tens a compostura
de abrires teu peito,
ainda tão alargado assim?

Criança, sou eu como tu
e contigo me lanças, com tua zarabatana
para pensamentos que varejem para longe daqui.

Criança, que olhos baços são esses que trazes,
quando ainda te cabe tanta vida e esperança?

Criança, tu sabes, eu sei, e muitos detêm,
que esta tua sina é cena trágica
e se acena sempre assim dramática.

E eu aqui absorto, trago teu amuleto em meu plexo
e assim sendo, exerço meu lado perplexo,
pois ali naquela cena de rua,


Eu era morbidamente sensível,
como deve ser um homem de nosso tempo.


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