segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Considerações sobre o filme “Nós que aqui estamos por vós esperamos” de Marcelo Masagão, como poema, pois aspas cabem para a Arte em qualquer estado:

Indagações


Nós que aqui estamos,
vimos, viemos , vamos e vemos
o que o potencial humano é capaz de criar,
antepondo-nos o nada ao quase tudo.
Maniqueísmo posto enjaulado,
assistimos ao in e ao yang
das possibilidades humanas
passarem como num filme em
slow-motion, flash-back ou aceleradamente.
Humanos estes inanimados e almados animais,
que, em seus opostos, subvertem e abstraem.
Nós que aqui estamos,
ouvimos o inaudível que as guerras
querem insanamente justificar.
Vemos o invisível e o inviável
que a arte pretende denunciar.
Impassíveis assistimos,
que imagens de guerra são atemporais.
E quanto mais para longe olhemos,
nuvens ainda trazem temporais.
Sinestesicamente, fétidas imagens
nos gritam o horror, o horror.
Geneticamente o X pode ser cromossomicamente
diferenciado do Y, contudo, o que as pernas de
Fred Asteire e os joelhos de Josefine Baker
nos mostram é que no rebolado da vida,
somos todos iguais.
Nós que aqui estamos,
homens e mulheres desta geração,
que ícones estamos produzindo
para as gerações futuras?
Que leitura farão de nós,
quando formos apenas matéria
para documentários e estórias?
Como serão vistos no futuro
os registros de dor
de um Munch destes mundos atuais?
Como serão processados os símbolos
de desânimo e despreparo
do Hopper destes tempos?
Quais são os bordados
que estão sendo retalhados
em condições de desilusão e sofrimento
dos Leonilsons e Bispos do Rosário
que conosco convivem e seus lamentos?
Nós que aqui estamos,
somos a representação do hoje,
que será vista amanhã.
Portanto, no agora sabemos reconhecer
os Duchamps e Chaplins
destes conturbados tempos?
Onde estão os poetas neste mundo,
onde os senhores da guerra
pintam dantescos quadros?
Há Baudelaires e Maiakoviskis aqui?
Pois é bem sabido que novos
Hitlers e Stalins ressurgem logo ali.
E nós que aqui estamos, estamos de
fato acordados ou já passamos
para o outro lado?
Metalinguagem pura, quando de dentro
deste poema salta um rebelado fonema,
a transmitir-nos:
- Sim, ainda estou aqui!
(20 de março de 2007 - p/ o curso de Linguística, na Facha, da Profa. Thereza Viana)

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